O debate sobre a profissionalização da arbitragem no futebol brasileiro não pode prescindir de um recorte específico sobre a situação da mulher árbitra. Os dados apresentados pela própria CBF são reveladores: entre 734 profissionais de arbitragem no país, apenas 134, – menos de 30% – são mulheres.
Essa disparidade numérica não é fruto do acaso, mas reflexo de uma estrutura historicamente masculinizada, que impõe barreiras adicionais ao ingresso, à permanência e à ascensão feminina na arbitragem.
Desafios
A profissionalização da arbitragem, se tratada de forma neutra, pode formalizar contratos sem enfrentar desigualdades estruturais preexistentes.
A mulher árbitra, além da precarização comum à categoria, enfrenta desafios específicos, como menor acesso às principais competições, avaliações mais rígidas, maior exposição a julgamentos públicos, assédio moral e simbólico, além da instabilidade recorrente nas escalas.
Mecanismos de proteção
Do ponto de vista jurídico-desportivo, a ausência de políticas institucionais voltadas à equidade de gênero compromete os próprios objetivos da profissionalização.
Não basta garantir vínculo contratual se não houver critérios transparentes de formação, avaliação, promoção e designação, que assegurem igualdade material de oportunidades.
A profissionalização precisa incorporar mecanismos de proteção, acompanhamento psicológico, combate ao assédio e estímulo à progressão feminina nas carreiras de arbitragem.
Segurança
A experiência internacional demonstra que o reconhecimento do árbitro como profissional do esporte de alto rendimento deve vir acompanhado de ambiente institucional seguro e inclusivo.
No Brasil, isso exige que a CBF e as entidades organizadoras assumam responsabilidade ativa na promoção da mulher na arbitragem, não como exceção ou política simbólica, mas como diretriz estrutural de governança esportiva.
Valorização
Ignorar o recorte de gênero na profissionalização da arbitragem significa perpetuar a exclusão sob uma nova roupagem jurídica.
Valorizar a mulher árbitra é fortalecer a credibilidade do sistema, ampliar a diversidade decisória e alinhar o futebol brasileiro aos princípios contemporâneos de integridade, equidade e justiça esportiva.





