O cancelamento do debate que seria promovido pela Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, mês passado, com a presença da Ministra das Mulheres, Márcia Lopes, representa uma perda significativa de oportunidade para avançar na agenda de enfrentamento à violência e ao assédio contra mulheres no esporte.
A iniciativa, solicitada pela deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), buscava discutir mecanismos de proteção às atletas, especialmente nas categorias de base, onde a vulnerabilidade é maior.
O cancelamento, portanto, não deve ser interpretado apenas como adiamento de uma sessão, mas como sinal de que os mecanismos legislativos e políticos ainda não têm priorizado com a urgência necessária a proteção das mulheres no esporte. Essa lacuna institucional reforça a necessidade de:
* Retomar com urgência o debate, assegurando nova data e ampla participação de representantes do esporte, atletas, entidades de classe, especialistas e órgãos públicos;
* Articular com o PL 4866/19, que propõe medidas concretas de proteção às atletas vítimas de violência, para que não se perca a oportunidade de alinhar a discussão a instrumentos legislativos já em tramitação;
* Descentralizar a pauta, garantindo que estados, municípios e entidades representativas do futebol brasileiro assumam responsabilidades claras na implementação de políticas de prevenção, acolhimento e combate à violência;
* Dar visibilidade pública, transformando o debate em política de Estado, e não apenas em promessa parlamentar, para que a sociedade cobre resultados concretos.
No futebol feminino, que cresce em representatividade e impacto social, a falta de enfrentamento estruturado à violência institucionaliza o silêncio e fragiliza a confiança das atletas. É imperativo que o tema retorne à pauta de forma imediata, sob risco de perpetuar práticas que comprometem tanto os direitos humanos quanto o desenvolvimento esportivo do país.
O cancelamento não encerra o debate: pelo contrário, deve servir como alerta e chamado à ação. A omissão custa caro, e cada adiamento representa mais tempo de exposição e insegurança para centenas de jovens atletas brasileiras.





